terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Despertando para um novo mundo

Reflexões sobre o Ensino da Natureza e Sociedade na Educação Infantil

Descobrir o mundo.
Existe um mundo de cores, cheiros, sensações, texturas e os mais diversificados sentidos a serem explorados, manipulados e compreendidos. Um mundo que se modifica e se transforma a cada instante, e que se desenrola numa dinâmica contínua, frente aos olhos curiosos de nossas crianças, que buscam através de suas ações, lançar entendimento sobre os mais variados fenômenos que se fazem existir.

“Uma das formas mais coerentes de avaliação, em relação às descobertas científicas e mais úteis para a identificação de compreensões erradas que necessita de maiores esclarecimentos, é a observação das verbalizações das crianças. Ouvir seus comentários e fazer-lhes perguntas enquanto lidam com os materiais científicos podem revelar muito.” (In: Avaliação em Ciências na Educação Infantil)

Enveredar por este caminho de descobertas, descortinando dúvidas, elucidando hipóteses e reavivando antigos e novos questionamentos, juntamente com a livre expressão dos conhecimentos prévios trazidos pelas crianças, é a vivência real daquilo que se postula enquanto aprendizagem significativa, pois a construção do conhecimento se dá a partir de ações concretas, constantes e planejadas sobre o objeto do saber, de modo a realizar sobre este, infinitas inferências capazes de ampliar a rede de significados e de relações que se é possível estabelecer.

Aprender, portanto, é ressignificar saberes numa rede de inter-relações cada vez mais ampla e complexa, viabilizando ao sujeito, a possibilidade de construção de novas perspectivas sobre a realidade na qual está inserido.

A aprendizagem, concebida nestes pressupostos, portanto, não se dá de modo automático e padronizado. É uma ação antes de tudo reflexiva, e, sobretudo, subjetiva, isto é, o aprender se consolida em um processo eminentemente pessoal, distante de conceitos e metodologias homogeneizantes, que reduzem o sujeito e suas potenciais habilidades e capacidades, a reprodutores alienados de informações descontextualizadas de sua história e da realidade que os cercam.

Aprender, nestes princípios, é agir sobre o objeto do conhecimento de modo interpretativo e reflexivo, e é papel da escola, enquanto instituição primordial de construção do saber, assim designada pela sociedade, permitir a construção de espaços efetivos de aprendizagem, onde conceitos possam ser desvendados e questionados, paradigmas possam ser decodificados e o conhecimento possa ser vivenciado e internalizado de forma prazerosa.

É neste contexto, tendo como pressupostos teóricos e filosóficos a busca pela edificação de uma educação de qualidade, que atenda integralmente às necessidades e especificidades de cada faixa etária, em especial, as crianças inseridas nos programas de Educação Infantil, que se faz imprescindível repensar a estrutura e a aplicabilidade dos currículos vivenciados em nossas pré-escolas, especialmente, aqueles trabalhados sobre a temática de natureza e Sociedade.

“ O trabalho com os conhecimentos derivados das Ciências Humanas e Naturais deve ser voltado para a ampliação das experiências das crianças e para a construção de conhecimentos diversificados sobre o meio social e natural. Nesse sentido, refere-se à pluralidade de fenômenos e acontecimentos — físicos, biológicos, geográficos, históricos e culturais —, ao conhecimento da diversidade de formas de explicar e representar o mundo, ao contato com as explicações científicas e à possibilidade de conhecer e construir novas formas de pensar sobre os eventos que as cercam.” (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998)

Para além de atividades repetitivas e reprodutivas, voltadas à preparação das crianças para os anos posteriores da sua escolaridade, como no caso do trabalho voltado para o desenvolvimento motor e de hábitos e atitudes, ou ainda práticas instituídas unicamente porque fazem parte do calendário comemorativo nacional, como o dia das mães, dia do soldado, dentre outros, é preciso avançar, no que concerne a necessidade de aprofundamento dos temas trabalhados, desmistificando estereótipos culturais, favorecendo a construção de conhecimentos sobre a diversidade de realidades sociais, culturais, geográficas e históricas.

Para tanto, é importante oferecer as crianças contato com diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do mundo, para que sejam instigadas por questões significativas a observá-los e explicá-los, tendo desta forma, acesso a modos variados de compreensão e representação.



“O trabalho com este eixo, portanto, deve propiciar experiências que possibilitem uma aproximação ao conhecimento das diversas formas de representação e explicação do mundo social e natural para que as crianças possam estabelecer progressivamente a diferenciação que existe entre mitos, lendas, explicações provenientes do “senso comum” e conhecimentos científicos.” (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998)

Infelizmente, não se pode afirmar que, em sua totalidade, as instituições educacionais brasileiras façam destes norteadores uma prática real e concisa em suas rotinas diárias de atuação. Contudo, ações pontuais e instituições comprometidas com sua função social têm demonstrado, de modo significativo, que é possível reverter esse cenário, instituindo de modo criativo, com embasamento teórico-científico, práticas e situações de aprendizagem relevantes, condizentes com as principais possibilidades de aprendizagem das crianças desta faixa etária.

A utilização de diferentes estratégias na busca das informações, o planejamento sistemático de ações de aprendizagem que envolvam, por exemplo, a coleta de dados e sua posterior catalogação, experiências diretas como passeios e excurssões, assim como o contato permanente com diferentes portadores, como mapas, fotografias e pinturas, podem se constituir como importantes mediadores do processo de aprendizagem no eixo Natureza e Sociedade. Ações, em sua maioria, realizadas através de inferências simples, porém de grande alcance, podem se concretizar como a solução tão almejada. É preciso apenas disponibilizar-se a transformar conceitos vigentes e lançar-se rumo a novas descobertas e novas atitudes.



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