A construção ética do fazer pedagógico
não é a doutrina ensinada, é o despertar.”
Ernest Renan
A construção de um processo educativo, pautado no desejo eminente de despertar potencialidades, tem se tornado nos últimos tempos, foco primordial de reflexão.
Muitas tem sido as teorias e discussões vigentes no âmbito da educação, que tem se ocupado em lançar luz e compreensão a este cenário ainda permeado por muitos questionamentos e indagações. Entre todas elas, a contribuição teórica ofertada por Paulo Freire, formulada em sua obra: “A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA”, remete-nos a uma singular internalização, pois permite-nos repensar a função social da educação, abrindo caminhos para a construção de um novo olhar sobre o papel do sujeito educador enquanto mediador e favorecedor deste despertar.
Qual é a identidade do educador brasileiro? Quais ideologias e filosofias permeiam e orientam sua prática pedagógica cotidiana? Que habilidades e competências busca despertar em seus educandos? São algumas das temáticas abarcadas na pesquisa e no investimento teórico desenvolvido por FREIRE que nos suscitam infindáveis contestações sobre o objetivo primeiro de todo e qualquer processo educativo.
Educar, portanto, partindo dos pressupostos enfatizados por FREIRE, transcende a dimensão do puro e simples treinamento de destrezas ou da mera transmissão mecânica de informações. Educar é essencialmente, uma atitude ética, respeitosa e acolhedora de diferenças, pois "quem forma, se forma e re-forma ao formar, e quem é formado, forma-se e forma ao ser formado", já que a aprendizagem não é passível de esgotamento a partir do tratamento do objeto ou do conteúdo, todavia se alonga e se estende à produção de condições em que aprender criticamente é possível, exigindo para tanto, a presença de educadores e educandos criativos, investigadores e inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.
Postula dessa forma, que o processo de ensino/aprendizagem não se solidifica em uma vertente unilateral, dependente exclusivamente da figura do professor, pois concebe a construção do conhecimento enquanto ação dialética, onde os sujeitos envolvidos, professor e aluno, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro.
Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender, ressaltando a dimensão da responsabilidade ética enquanto norteadora de todas as ações humanas.
Nesse sentido, propõe uma humanização do professor enquanto mentor e guia no processo educativo-social, ressaltando a necessidade de se instituir uma busca constante por conscientização dos educandos de todas as camadas sociais, sobretudo as de baixa renda, das manipulações políticas que as mantêm sob seu jugo.
Daí a relevância dada à pesquisa e a formação continuada dos profissionais da educação, para que estes possam se instrumentalizar cada vez mais, ampliando estratégias de ação e ressignificando metodologias a fim de que a educação seja de fato compartilhada e vivenciada por todos os cidadãos.
Tornar-se receptivo, acolhendo e reconhecendo a identidade cultural de cada sujeito, bem como respeitar e valorizar a bagagem cognoscente de cada indivíduo, posicionando-se criticamente frente às adversidades e desigualdades vigentes, seriam algumas das ações compatíveis com o novo perfil de educador proposto por FREIRE.
Mas esta não será uma estrada fácil de se percorrer. Todo processo de mudança requer um tempo necessário para de fato se consolidar, pois para além dos discursos é preciso transformar sentidos e concepções a muito instituídas.
É preciso desmistificar conceitos e padrões, é necessário desvestir-se de toda supremacia de saber que ainda permeia o ideário educativo.
É necessário aprender a ser.
Ser para conhecer...
Conhecer para ser...
Ser gente, ser poeta, ser sujeito e autor de sua própria história, pois, somente quando a educação e os sujeitos envolvidos em sua construção se permitirem ser, tornar-se-á real e palpável a edificação do verdadeiro e tão almejado saber para todos.
Referência Bibliográfica
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a pratica educativa. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1997.
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