terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Uma Nova Proposta Para O Ensino da Música na Educação Infantil

A iniciação musical, proposta como prática constante nas instituições educacionais pelo Referencial Curricular Nacional, remete-nos a um questionamento acerca do real espaço conquistado pela linguagem musical em nossas escolas, nos tempos atuais.

Sabe-se que a música ajuda a afinar a sensibilidade, aumenta a capacidade de concentração, desenvolve o raciocínio lógico-matemático e a memória, além de ser um forte desencadeador de emoções; de modo que os benefícios de uma boa Iniciação Musical se estenderão para todas as áreas da aprendizagem.

No entanto, ainda hoje percebe-se um certo descaso por parte de alguns educadores em reconhecer a música enquanto instrumento viabilizador de desenvolvimento de competências e habilidades nos educandos, delegando à vivência musical um espaço de pura e simples recreação, reduzindo sua importância e aplicabilidade unicamente a momentos de lazer.

Todo o trabalho a ser desenvolvido na educação infantil deve buscar a brincadeira musical, aproveitando que existe uma identificação natural da criança com a música. A atividade deve estar muito ligada à descoberta e à criatividade, a experimentação e ao potencial imaginativo e dramático da criança, para que brincando, as crianças possam exercitar também habilidades que serão exigidas durante os anos seguintes, como o uso da métrica nas letras e as noções de rima e ritmo.

Uma das questões fundamentais a ser abordada com as crianças é o que vem a ser essa "coisa" chamada música. A música é a linguagem que organiza som e silêncio em intervalos demarcados matematicamente, e o grande desafio de sua vivência real, enquanto mediadora de aprendizagem nas escolas, está em transmitir noções básicas de ritmo e harmonia sem ser monótono ou mecânico.

Nesse sentido, ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de propiciar a vivência de elementos estruturais dessa linguagem.

A criança através da brincadeira, relaciona-se com o mundo que a cada dia descobre e é dessa forma que faz música: brincando. Receptiva e curiosa, ela pesquisa materiais sonoros, "descobre instrumentos", inventa melodias e ouve com prazer a música de todos os povos.

De forma ativa e contínua, a aprendizagem musical integra prática, reflexão e conscientização, encaminhando a experiência para níveis cada vez mais elaborados.

"Um povo que sabe cantar está a um passo da felicidade.
É preciso ensinar o mundo inteiro a cantar".

Villa-Lobos

A música deve ser considerada uma verdadeira "linguagem de expressão”, parte integrante da formação global da criança. Deverá ela estar colaborando no desenvolvimento dos processos de aquisição do conhecimento, sensibilidade, criatividade, sociabilidade e gosto artístico. Caso contrário, perder-se-á na forma de simples atividade mecânica, com a mera reprodução de cantos, sem a interação da criança com o verdadeiro momento de criação musical.

O benefício desse momento criativo deve prevalecer sobre os conteúdos. O descobrir processos; pesquisar sons, combinações rítmicas, melódicas e até harmônicas constituem para a criança um grande prazer e satisfação. Ela poderá estar manipulando a seu bel-prazer sons que produzirá através de suas próprias experiências, organizando-os, no início, de acordo com regras estipuladas por ela mesma. Esse momento é de fundamental importância, porque a criança estará bastante receptiva e desinibida para se envolver num "fazer musical", desbloqueada de ranços preconceituosos como os de que não sabe cantar ou não tem ritmo, inibições estas criadas, muitas vezes, pela própria Escola.

A Escola tem proporcionado à criança poucas possibilidades para que ela aplique sua curiosidade espontânea. Esquece-se de que a criança recebe informações válidas a respeito dos objetos e acontecimentos, na medida em que age sobre estes, tocando-os, olhando-os, ouvindo-os e "pensando" a seu respeito; esquece-se ainda de que ela assimila essas ações e nesse processo desenvolve o conhecimento. Os símbolos falados ou escritos não podem substituir as ações da criança na construção do conhecimento. A fonte de todo o significado está na relação deenvolvida entre os próprios objetos e nas ações da criança sobre eles, e não nos símbolos.

O desenvolvimento cognitivo não ocorre simplesmente porque se diz à criança como ela deve falar, brincar, escrever, tocar. Ele surge da atividade da criança com essas ações, de sua interação com o objeto de conhecimento.

Portanto, “a razão que justifica o ensino de música nas escolas é oferecer a todas as crianças, qualquer que seja sua aptidão, a oportunidade de lidar com a música e seus elementos, próprios de todo ser humano: audição, expressão rítmica e melódica, sensorialidade, emotividade, inteligência ordenadora e criatividade”, já que através da vivência e compreensão da linguagem musical, sua organicidade e articulações, é possível abrir canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções e consolidando a formação da personalidade.

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