Reflexões sobre o amoroso ato de Educar
Tema: Desenvolvimento Psico-Emocional
“ A importância do relacionamento Professor/Aluno”
“O estudo das "ciências da educação" não faz educadores.
Educadores não podem ser produzidos.
Educadores nascem.
O que se pode fazer é ajudá-los a nascer.”
Rubem Alves
Todos os dias, em cada breve momento de existência que se vivencia, idéias, pensamentos e emoções, palavras, sonhos e sensações nascem. Nascer é o mais sublime ato de vida, é reinscrever no mundo uma nova realidade, uma nova ponta de esperança, é manifestar-se verdadeiramente diante do outro.
Nascer é lançar-se no labirinto oculto do desconhecido, do não-saber, do inteligível e do incompreensível, e, portanto é o ato de nascer, para além do surgimento de um corpo no espaço, condição primeira para toda e qualquer aprendizagem, pois para aprender é preciso em primeira instância reconhecer-se enquanto ser faltoso, incompleto, imperfeito. É preciso nascer e renascer cotidianamente para ser. Ser sujeito.
Etimologicamente, aprendizagem é, pois, aquisição de conhecimento ou habilidade. Ela pode ser definida como um processo de integração e adaptação do ser ao ambiente em que vive, implicando, pois, mudanças de comportamento. Nesse sentido, a aprendizagem é um processo que dura a vida inteira.
“Aprendizagem é a competência de reconstruir o saber acumulado de
maneira permanente” (Demo, 1998, p. 35).
Existem, portanto, diversos e variados espaços de aprendizagem passíveis de interação e atuação humana: bibliotecas, teatros, parques, museus, núcleos familiares, apresentações artístico-culturais seriam alguns que poderíamos citar como exemplos palpáveis e concretos. Entretanto, nossa sociedade pós-moderna, cerceada por uma dinâmica político-social de interesses capitalistas e individualistas, prioriza a instituição educacional ESCOLA, enquanto lócus fundamental de produção de conhecimento, delegando-lhe a árdua tarefa de efetivar a aprendizagem dos saberes socialmente construídos, a partir de metodologias e práticas didáticas nem sempre condizentes com a necessidade e o desejo dos sujeitos eminentemente inseridos neste processo.
A expectativa construída de que a aprendizagem seria algo apenas cumulativo, tal qual processo de estocagem de conteúdos, já não é mais condizente com os ideais educacionais vigentes. As reflexões emergentes no campo da teoria das aprendizagens têm direcionado seus esforços rumo a uma compreensão de aprendizagem que contemple o desenvolvimento de competências e habilidades, reconstrutivas a partir de um movimento histórico-cultural. Nesse sentido, para que o indivíduo aprenda, é necessário que ele seja o agente de sua aprendizagem. Desta forma, fica claro que aprender, para um mundo cuja ênfase é a imprevisibilidade, a impermanência, não é um processo que conduz à acumulação de novos conhecimentos, mas à integração, modificação, ao estabelecimento de relações e à coordenação entre esquemas de conhecimento que já possuíamos, dotados de uma certa estrutura e organização que varia, em vínculos e relações, a cada aprendizagem que realizamos, como postula César Coll.
Por acreditar nesta premissa, é necessário e fundamental dialogar com Paulo Freire, naquilo em que suas concepções percebem e delineiam educador e educando como frutos de uma sociedade paradoxal e que exige-lhes disponibilidade e compromisso para compreender a realidade e buscar, através dos conhecimentos adquiridos estabelecer ações educativas, tendo em vista uma sociedade mais justa, menos desigual, mais humanizada.
O estudo do livro Pedagogia da Autonomia, realizado na presente disciplina, é o instrumento que sensibiliza o futuro educador para a importância da sua ação pedagógica no processo educativo.
Enfrentar riscos, aceitar o novo, e como afirma Paulo Freire “Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar.” (2004, p. 41), se faz necessário para incorporar os saberes desenvolvendo-os com os sentimentos e as emoções.
Ao acreditarmos que os sujeitos do processo educativo são conscientes do seu inacabamento, e, portanto, o ato de ensinar e aprender deve ser permanente, vamos construindo nossa autonomia, e é nisso que reside a alegria e a esperança de ensinar e do querer bem aos educandos, já que como FREIRE postulamos que “ formar é mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas” (2004, p.15). Formar é antes de tudo vivenciar em nossa prática educativa a ética e a coerência como responsabilidade essencial, que deve vir sem interesses lucrativos, sem acusações injustas, sem promessas inalcançáveis, sem discriminação racial, social ou de gênero, sem mediocridade e/ou falsidades, assumindo nossa verdadeira função de agentes educativos.
Freire ressalta a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa. Sem essa reflexão, a teoria pode ir virando apenas discurso; e a prática, ativismo e reprodução alienada. Nos adverte para que não sejamos demasiadamente convictos de nossas certezas e que todo novo conhecimento pode superar o já existente, sendo necessário ao professor(a) sempre exercer o hábito da pesquisa (capacitação profissional e promoção social para evitar tornar-se obsoleto), para poder saber o que ainda não sabe e comunicar as novidades aos alunos (as), fazendo que a curiosidade dos mesmos transite da ingenuidade do senso comum à "curiosidade epistemológica"(FREIRE, 2004, p.29), carregada de criticidade. O ato de ensinar deve exigir o desenvolvimento deste senso crítico no aluno.
Destaca a importância de propiciar condições aos educandos, em suas relações uns com os outros ou com o (a) professor(a), de ensaiar a experiência de assumir-se como uma pessoa social e histórica, que pensa, se comunica, tem sonhos, que tem raiva e que ama. Isto despe o agente pedagógico e permite que se rompa a neutralidade do mesmo (a). Acredita que a educação é uma forma de intervenção no mundo, que não é neutra, nem indiferente, mas que pode implicar tanto no desmascaramento da ideologia dominante como mantê-la, e por isso é fundamental exerce-la com respeito ao outro: "Ensinar exige respeito aos saberes do educando" (FREIRE, 2003, p.30).
Assim, ao afirmar que "...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção" (FREIRE, 2004, p. 47), caracteriza a importância imperativa de se vivenciar o conhecimento numa dimensão de extremo respeito ao outro, à sua realidade e a sua história. Todos devem ser respeitados pela sua autonomia, por isso uma auto-avaliação dos alunos seria um bom recurso utilizado dentro da prática pedagógica, além do cuidado com o espaço físico usado nesta.
Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa aos direitos dos educandos e exige também, a apreensão da realidade (FREIRE, 2004, p.66). Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível, pois a história deve ser vista como uma possibilidade e não uma determinação. Para mudarmos, devemos ser esperançosos, ou seja, ter esperança de que podemos ensinar e produzir junto com os nossos alunos para resistir aos obstáculos. Mas para cobrar e lutar ideologicamente por mudanças e respeito profissional, o educador não pode ver a prática educativa como algo insipiente e sem valorização. Precisa mostrar e demonstrar esta esperança e espírito de revolução diariamente e incansavelmente, permitindo-se nascer a cada dia como um novo sujeito educador, dotado de extrema e avassaladora relação amorosa com o objeto do conhecimento e com a própria ação educativa, fazendo efetivamente valer seu comprometimento com a politicidade da educação.