terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

CURSO: LAÇOS SIMBÓLICOS DO MOVIMENTO

FORMAÇÃO PESSOAL EM PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL


OBJETIVO

Fundamenta-se na tentativa em oferecer aos diversos profissionais e entusiastas do universo psicomotor, uma maior compreensão dos aspectos corporais, suas manifestações e implicações enquanto determinantes no processo de edificação da personalidade.


PÚBLICO-ALVO

Educadores e Profissionais de Ensino inseridos nas redes privada e pública de ensino do município de Divinópolis/MG e região Centro-Oeste, Profissionais da saúde.


CARGA-HORÁRIA

O curso será organizado a partir de uma carga horária total correspondente a 40h/a, subdivididas em 2 módulos de atuação: Módulo Teórico e Módulo Vivencial, com 20h/a cada módulo, de modo que cada encontro seja organizado em 4h/a, perfazendo um total de 10 encontros.


CERTIFICAÇÃO E CONCLUSÃO DO CURSO

A certificação e conclusão do curso estarão sujeitas a freqüência igual ou superior a 75% da carga horária total ministrada, juntamente com a entrega e avaliação igual ou superior a 60% de aproveitamento, referente à execução do Memorial Descritivo.

DOCUMENTOS PARA INSCRIÇÃO

- Xerox da Carteira de Identidade;

- Xerox do CPF;

- Preenchimento da Ficha de Inscrição.

FORMAÇÃO DE TURMAS

Cada turma se estruturará com o número máximo de 25 cursistas e o número mínimo de 8 cursistas. Serão oferecidas no 1º semestre, a oportunidade de escolha entre 2 horários (manhã/noite); as segundas de 7h30 às 11h30 e as quartas de 17h30 às 21h30.


ESTRUTURA CURRICULAR

- Estrutura e Desenvolvimento Psicomotor

- Vivências lúdicas e Jogos Psicomotores

- A constituição Subjetiva a partir do olhar psicomotor;

- Movimento e desejo;

- Sintoma Psicomotor: Leituras

INVESTIMENTO

R$80,00 (oitenta reais) à vista por cursista, ou R$100,00 (cem reais), divididos em 2 parcelas de R$50,00 (cheques pré-datados).

DIVISÃO DE TURMAS

DATAS E HORÁRIOS

Turmas de Segunda feira – 7h30 às 11h30

21/04; 28/04

05/05; 12/05

19/05; 26/05

02/06; 09/06

16/06; 23/06

Turmas de Quarta feira – 17h30 ás 21h30

16/04; 23/04

30/04; 07/05

14/05; 21/05

28/05; 04/06

11/06; 18/06

COORDENAÇÃO E EXECUÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Erica Gomes Pontes

Psicóloga Clínica e Educacional CRP:04/21045

Especialista em Psicologia da Educação PUC/MG

Psicomotricista, Musicoterapeuta, Arteterapeuta

(37)99422192

(37)32216765 CEMEP

R: Sergipe, 1188 Centro

Divinópolis/MG

ericapontes@gmail.com

http://ericapontes.blogspot.com

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O nascimento de um sujeito Educador...

Reflexões sobre o amoroso ato de Educar

Tema: Desenvolvimento Psico-Emocional

“ A importância do relacionamento Professor/Aluno”

“O estudo das "ciências da educação" não faz educadores.

Educadores não podem ser produzidos.

Educadores nascem.

O que se pode fazer é ajudá-los a nascer.”

Rubem Alves

Todos os dias, em cada breve momento de existência que se vivencia, idéias, pensamentos e emoções, palavras, sonhos e sensações nascem. Nascer é o mais sublime ato de vida, é reinscrever no mundo uma nova realidade, uma nova ponta de esperança, é manifestar-se verdadeiramente diante do outro.

Nascer é lançar-se no labirinto oculto do desconhecido, do não-saber, do inteligível e do incompreensível, e, portanto é o ato de nascer, para além do surgimento de um corpo no espaço, condição primeira para toda e qualquer aprendizagem, pois para aprender é preciso em primeira instância reconhecer-se enquanto ser faltoso, incompleto, imperfeito. É preciso nascer e renascer cotidianamente para ser. Ser sujeito.

Etimologicamente, aprendizagem é, pois, aquisição de conhecimento ou habilidade. Ela pode ser definida como um processo de integração e adaptação do ser ao ambiente em que vive, implicando, pois, mudanças de comportamento. Nesse sentido, a aprendizagem é um processo que dura a vida inteira.

“Aprendizagem é a competência de reconstruir o saber acumulado de

maneira permanente” (Demo, 1998, p. 35).

Existem, portanto, diversos e variados espaços de aprendizagem passíveis de interação e atuação humana: bibliotecas, teatros, parques, museus, núcleos familiares, apresentações artístico-culturais seriam alguns que poderíamos citar como exemplos palpáveis e concretos. Entretanto, nossa sociedade pós-moderna, cerceada por uma dinâmica político-social de interesses capitalistas e individualistas, prioriza a instituição educacional ESCOLA, enquanto lócus fundamental de produção de conhecimento, delegando-lhe a árdua tarefa de efetivar a aprendizagem dos saberes socialmente construídos, a partir de metodologias e práticas didáticas nem sempre condizentes com a necessidade e o desejo dos sujeitos eminentemente inseridos neste processo.

A expectativa construída de que a aprendizagem seria algo apenas cumulativo, tal qual processo de estocagem de conteúdos, já não é mais condizente com os ideais educacionais vigentes. As reflexões emergentes no campo da teoria das aprendizagens têm direcionado seus esforços rumo a uma compreensão de aprendizagem que contemple o desenvolvimento de competências e habilidades, reconstrutivas a partir de um movimento histórico-cultural. Nesse sentido, para que o indivíduo aprenda, é necessário que ele seja o agente de sua aprendizagem. Desta forma, fica claro que aprender, para um mundo cuja ênfase é a imprevisibilidade, a impermanência, não é um processo que conduz à acumulação de novos conhecimentos, mas à integração, modificação, ao estabelecimento de relações e à coordenação entre esquemas de conhecimento que já possuíamos, dotados de uma certa estrutura e organização que varia, em vínculos e relações, a cada aprendizagem que realizamos, como postula César Coll.

Por acreditar nesta premissa, é necessário e fundamental dialogar com Paulo Freire, naquilo em que suas concepções percebem e delineiam educador e educando como frutos de uma sociedade paradoxal e que exige-lhes disponibilidade e compromisso para compreender a realidade e buscar, através dos conhecimentos adquiridos estabelecer ações educativas, tendo em vista uma sociedade mais justa, menos desigual, mais humanizada.

O estudo do livro Pedagogia da Autonomia, realizado na presente disciplina, é o instrumento que sensibiliza o futuro educador para a importância da sua ação pedagógica no processo educativo.

Enfrentar riscos, aceitar o novo, e como afirma Paulo Freire “Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar.” (2004, p. 41), se faz necessário para incorporar os saberes desenvolvendo-os com os sentimentos e as emoções.

Ao acreditarmos que os sujeitos do processo educativo são conscientes do seu inacabamento, e, portanto, o ato de ensinar e aprender deve ser permanente, vamos construindo nossa autonomia, e é nisso que reside a alegria e a esperança de ensinar e do querer bem aos educandos, já que como FREIRE postulamos que “ formar é mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas” (2004, p.15). Formar é antes de tudo vivenciar em nossa prática educativa a ética e a coerência como responsabilidade essencial, que deve vir sem interesses lucrativos, sem acusações injustas, sem promessas inalcançáveis, sem discriminação racial, social ou de gênero, sem mediocridade e/ou falsidades, assumindo nossa verdadeira função de agentes educativos.

Freire ressalta a necessidade de uma reflexão crítica sobre a prática educativa. Sem essa reflexão, a teoria pode ir virando apenas discurso; e a prática, ativismo e reprodução alienada. Nos adverte para que não sejamos demasiadamente convictos de nossas certezas e que todo novo conhecimento pode superar o já existente, sendo necessário ao professor(a) sempre exercer o hábito da pesquisa (capacitação profissional e promoção social para evitar tornar-se obsoleto), para poder saber o que ainda não sabe e comunicar as novidades aos alunos (as), fazendo que a curiosidade dos mesmos transite da ingenuidade do senso comum à "curiosidade epistemológica"(FREIRE, 2004, p.29), carregada de criticidade. O ato de ensinar deve exigir o desenvolvimento deste senso crítico no aluno.

Destaca a importância de propiciar condições aos educandos, em suas relações uns com os outros ou com o (a) professor(a), de ensaiar a experiência de assumir-se como uma pessoa social e histórica, que pensa, se comunica, tem sonhos, que tem raiva e que ama. Isto despe o agente pedagógico e permite que se rompa a neutralidade do mesmo (a). Acredita que a educação é uma forma de intervenção no mundo, que não é neutra, nem indiferente, mas que pode implicar tanto no desmascaramento da ideologia dominante como mantê-la, e por isso é fundamental exerce-la com respeito ao outro: "Ensinar exige respeito aos saberes do educando" (FREIRE, 2003, p.30).

Assim, ao afirmar que "...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção" (FREIRE, 2004, p. 47), caracteriza a importância imperativa de se vivenciar o conhecimento numa dimensão de extremo respeito ao outro, à sua realidade e a sua história. Todos devem ser respeitados pela sua autonomia, por isso uma auto-avaliação dos alunos seria um bom recurso utilizado dentro da prática pedagógica, além do cuidado com o espaço físico usado nesta.

Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa aos direitos dos educandos e exige também, a apreensão da realidade (FREIRE, 2004, p.66). Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível, pois a história deve ser vista como uma possibilidade e não uma determinação. Para mudarmos, devemos ser esperançosos, ou seja, ter esperança de que podemos ensinar e produzir junto com os nossos alunos para resistir aos obstáculos. Mas para cobrar e lutar ideologicamente por mudanças e respeito profissional, o educador não pode ver a prática educativa como algo insipiente e sem valorização. Precisa mostrar e demonstrar esta esperança e espírito de revolução diariamente e incansavelmente, permitindo-se nascer a cada dia como um novo sujeito educador, dotado de extrema e avassaladora relação amorosa com o objeto do conhecimento e com a própria ação educativa, fazendo efetivamente valer seu comprometimento com a politicidade da educação.



Uma Nova Proposta Para O Ensino da Música na Educação Infantil

A iniciação musical, proposta como prática constante nas instituições educacionais pelo Referencial Curricular Nacional, remete-nos a um questionamento acerca do real espaço conquistado pela linguagem musical em nossas escolas, nos tempos atuais.

Sabe-se que a música ajuda a afinar a sensibilidade, aumenta a capacidade de concentração, desenvolve o raciocínio lógico-matemático e a memória, além de ser um forte desencadeador de emoções; de modo que os benefícios de uma boa Iniciação Musical se estenderão para todas as áreas da aprendizagem.

No entanto, ainda hoje percebe-se um certo descaso por parte de alguns educadores em reconhecer a música enquanto instrumento viabilizador de desenvolvimento de competências e habilidades nos educandos, delegando à vivência musical um espaço de pura e simples recreação, reduzindo sua importância e aplicabilidade unicamente a momentos de lazer.

Todo o trabalho a ser desenvolvido na educação infantil deve buscar a brincadeira musical, aproveitando que existe uma identificação natural da criança com a música. A atividade deve estar muito ligada à descoberta e à criatividade, a experimentação e ao potencial imaginativo e dramático da criança, para que brincando, as crianças possam exercitar também habilidades que serão exigidas durante os anos seguintes, como o uso da métrica nas letras e as noções de rima e ritmo.

Uma das questões fundamentais a ser abordada com as crianças é o que vem a ser essa "coisa" chamada música. A música é a linguagem que organiza som e silêncio em intervalos demarcados matematicamente, e o grande desafio de sua vivência real, enquanto mediadora de aprendizagem nas escolas, está em transmitir noções básicas de ritmo e harmonia sem ser monótono ou mecânico.

Nesse sentido, ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de propiciar a vivência de elementos estruturais dessa linguagem.

A criança através da brincadeira, relaciona-se com o mundo que a cada dia descobre e é dessa forma que faz música: brincando. Receptiva e curiosa, ela pesquisa materiais sonoros, "descobre instrumentos", inventa melodias e ouve com prazer a música de todos os povos.

De forma ativa e contínua, a aprendizagem musical integra prática, reflexão e conscientização, encaminhando a experiência para níveis cada vez mais elaborados.

"Um povo que sabe cantar está a um passo da felicidade.
É preciso ensinar o mundo inteiro a cantar".

Villa-Lobos

A música deve ser considerada uma verdadeira "linguagem de expressão”, parte integrante da formação global da criança. Deverá ela estar colaborando no desenvolvimento dos processos de aquisição do conhecimento, sensibilidade, criatividade, sociabilidade e gosto artístico. Caso contrário, perder-se-á na forma de simples atividade mecânica, com a mera reprodução de cantos, sem a interação da criança com o verdadeiro momento de criação musical.

O benefício desse momento criativo deve prevalecer sobre os conteúdos. O descobrir processos; pesquisar sons, combinações rítmicas, melódicas e até harmônicas constituem para a criança um grande prazer e satisfação. Ela poderá estar manipulando a seu bel-prazer sons que produzirá através de suas próprias experiências, organizando-os, no início, de acordo com regras estipuladas por ela mesma. Esse momento é de fundamental importância, porque a criança estará bastante receptiva e desinibida para se envolver num "fazer musical", desbloqueada de ranços preconceituosos como os de que não sabe cantar ou não tem ritmo, inibições estas criadas, muitas vezes, pela própria Escola.

A Escola tem proporcionado à criança poucas possibilidades para que ela aplique sua curiosidade espontânea. Esquece-se de que a criança recebe informações válidas a respeito dos objetos e acontecimentos, na medida em que age sobre estes, tocando-os, olhando-os, ouvindo-os e "pensando" a seu respeito; esquece-se ainda de que ela assimila essas ações e nesse processo desenvolve o conhecimento. Os símbolos falados ou escritos não podem substituir as ações da criança na construção do conhecimento. A fonte de todo o significado está na relação deenvolvida entre os próprios objetos e nas ações da criança sobre eles, e não nos símbolos.

O desenvolvimento cognitivo não ocorre simplesmente porque se diz à criança como ela deve falar, brincar, escrever, tocar. Ele surge da atividade da criança com essas ações, de sua interação com o objeto de conhecimento.

Portanto, “a razão que justifica o ensino de música nas escolas é oferecer a todas as crianças, qualquer que seja sua aptidão, a oportunidade de lidar com a música e seus elementos, próprios de todo ser humano: audição, expressão rítmica e melódica, sensorialidade, emotividade, inteligência ordenadora e criatividade”, já que através da vivência e compreensão da linguagem musical, sua organicidade e articulações, é possível abrir canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções e consolidando a formação da personalidade.

Entre o ser e o saber...

A construção ética do fazer pedagógico


O essencial, com efeito, na educação,

não é a doutrina ensinada, é o despertar.”

Ernest Renan

A construção de um processo educativo, pautado no desejo eminente de despertar potencialidades, tem se tornado nos últimos tempos, foco primordial de reflexão.

Muitas tem sido as teorias e discussões vigentes no âmbito da educação, que tem se ocupado em lançar luz e compreensão a este cenário ainda permeado por muitos questionamentos e indagações. Entre todas elas, a contribuição teórica ofertada por Paulo Freire, formulada em sua obra: “A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA”, remete-nos a uma singular internalização, pois permite-nos repensar a função social da educação, abrindo caminhos para a construção de um novo olhar sobre o papel do sujeito educador enquanto mediador e favorecedor deste despertar.

Qual é a identidade do educador brasileiro? Quais ideologias e filosofias permeiam e orientam sua prática pedagógica cotidiana? Que habilidades e competências busca despertar em seus educandos? São algumas das temáticas abarcadas na pesquisa e no investimento teórico desenvolvido por FREIRE que nos suscitam infindáveis contestações sobre o objetivo primeiro de todo e qualquer processo educativo.

Educar, portanto, partindo dos pressupostos enfatizados por FREIRE, transcende a dimensão do puro e simples treinamento de destrezas ou da mera transmissão mecânica de informações. Educar é essencialmente, uma atitude ética, respeitosa e acolhedora de diferenças, pois "quem forma, se forma e re-forma ao formar, e quem é formado, forma-se e forma ao ser formado", já que a aprendizagem não é passível de esgotamento a partir do tratamento do objeto ou do conteúdo, todavia se alonga e se estende à produção de condições em que aprender criticamente é possível, exigindo para tanto, a presença de educadores e educandos criativos, investigadores e inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.

Postula dessa forma, que o processo de ensino/aprendizagem não se solidifica em uma vertente unilateral, dependente exclusivamente da figura do professor, pois concebe a construção do conhecimento enquanto ação dialética, onde os sujeitos envolvidos, professor e aluno, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro.

Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender, ressaltando a dimensão da responsabilidade ética enquanto norteadora de todas as ações humanas.

Nesse sentido, propõe uma humanização do professor enquanto mentor e guia no processo educativo-social, ressaltando a necessidade de se instituir uma busca constante por conscientização dos educandos de todas as camadas sociais, sobretudo as de baixa renda, das manipulações políticas que as mantêm sob seu jugo.

Daí a relevância dada à pesquisa e a formação continuada dos profissionais da educação, para que estes possam se instrumentalizar cada vez mais, ampliando estratégias de ação e ressignificando metodologias a fim de que a educação seja de fato compartilhada e vivenciada por todos os cidadãos.

Tornar-se receptivo, acolhendo e reconhecendo a identidade cultural de cada sujeito, bem como respeitar e valorizar a bagagem cognoscente de cada indivíduo, posicionando-se criticamente frente às adversidades e desigualdades vigentes, seriam algumas das ações compatíveis com o novo perfil de educador proposto por FREIRE.

Mas esta não será uma estrada fácil de se percorrer. Todo processo de mudança requer um tempo necessário para de fato se consolidar, pois para além dos discursos é preciso transformar sentidos e concepções a muito instituídas.

É preciso desmistificar conceitos e padrões, é necessário desvestir-se de toda supremacia de saber que ainda permeia o ideário educativo.

É necessário aprender a ser.

Ser para conhecer...

Conhecer para ser...

Ser gente, ser poeta, ser sujeito e autor de sua própria história, pois, somente quando a educação e os sujeitos envolvidos em sua construção se permitirem ser, tornar-se-á real e palpável a edificação do verdadeiro e tão almejado saber para todos.

Referência Bibliográfica

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a pratica educativa. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1997.


Educação Infantil: Fundamentos e Métodos

“Grande é a poesia, a bondade e as danças.

Mas a melhor coisa do mundo são as crianças.”

Fernando Pessoa

Repensar uma compreensão de infância, no atual cenário vigente, nomeado por contemporaneidade, que contemple em sua totalidade os aspectos sócio-histórico-culturais, requer incindir sobre os fundamentos e métodos abarcados pelas instituições de educação infantil brasileiras e lançar sobre estas, um olhar eminentemente crítico e reflexivo, que almeje elucidar a real proposta pedagógica vivenciada em nossas pré-escolas.

Na sociedade contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho, o avanço tecnológico configurando a sociedade virtual e os meios de comunicação e informação, incidem fortemente no universo escolar, aumentando os desafios para torná-los uma conquista democrática efetiva.

Transformar práticas e culturas tradicionais e burocráticas das escolas, não é tarefa simples. O desafio é educar propiciando um desenvolvimento humano, cultural, científico e tecnológico de modo que adquiram condições para enfrentar as exigências do mundo contemporâneo, desde a mais tenra idade.

Nesse sentido, a ressignificação do ensino deve passar por profundas mudanças já que falar sobre educação é refletir sobre as práticas social, cultural, política e histórica concretas, intrinsecamente associadas ao processo de construção do conhecimento humano.

Nessa perspectiva, a escola torna-se um espaço vivo de troca e diálogo, um centro de aprendizagem e produção de experiências pedagógicas que envolvem novas formas de ensinar e de aprender, articuladas com as necessidades sociais. Por isso, é fundamental voltar-se para a formação integral do aluno.

Desenvolver competências, formar valores: essas idéias ocupam um espaço cada vez mais central na reflexão dos professores inseridos nos programas de Educação Infantil de todo o país. Tudo porque, em última instância, representam um dos principais desafios da escola contemporânea: formar alunos mais do que aptos a dominar determinados conteúdos, capazes de ler e interpretar o mundo e aprender continuamente.

É preciso estar atento e desconstruir a idéia de oposição entre disciplinas e competências, comumente divulgada entre os educadores. De fato, disciplinas e competências não se opõem, mas se solidarizam. O desafio está em reencontrar o papel das disciplinas curriculares como meio, e o papel da formação para competências e valores como o fim da educação. Ao educador cabe a missão de redescobrir-se mediador nesse processo, considerando o papel fundamental do conhecimento. Só pode ser competente uma pessoa que tem conhecimentos.

É exatamente por acreditar nestes preceitos que a obra intitulada: “Jogos, Projetos e Oficinas para a Educação Infantil”, consolida-se enquanto próspero recurso pedagógico, naquilo em que apresenta, de forma sintética, com linguagem clara e acessível, um conjunto sistematizado de sugestões de atividades a serem vivenciadas no segmento descrito por educação Infantil, contextualizando-as com as necessidades morais e éticas mais emergenciais.

Trata-se de propor situações de aprendizagem capazes de orientar a atividade educativa de modo que os alunos adquiram um conjunto de conhecimentos que lhes sirvam para resolver problemas e para eleger as estratégias adequadas que lhes permitam enfrentar seus problemas com maiores garantias de êxito. O mais importante, em conseqüência, no processo de ensino e de aprendizagem, não é que os alunos adquiram determinados conteúdos, mas que sejam capazes de aprender por eles mesmos, de trabalhar em equipe, de comunicar-se, ter iniciativa, comportar-se de forma socialmente responsável e de desenvolver um comportamento moral autônomo. Os conteúdos que se aprendem devem estar em função das competências que se pretende que os alunos adquiram.

De acordo com este arcabouço teórico, é imprescindível delegar ao corpo e a sua vivência em ambiente escolar, um papel de destaque e uma importância primeira, naquilo em que está implicado de modo indissociável no processo de construção do conhecimento, por ser nosso principal recurso comunicacional e, portanto, lingüístico, na lida diária com a realidade na qual estamos inseridos.

É por intermédio do corpo que viabilizamos nossa capacidade interacional, é através dele que nos relacionamos com os outros e com todo o universo informacional existente, absorvendo e ressignificando o conhecimento vivenciado. É, portanto, o corpo, que nos permite, a partir das experiências concretas, a entrada no universo simbólico e o desenvolvimento da capacidade de abstração, recursos imprescindíveis a real efetivação da aprendizagem, objetivo primeiro de toda e qualquer etapa educacional, em especial aquela a qual denominamos por Educação Infantil.

Despertando para um novo mundo

Reflexões sobre o Ensino da Natureza e Sociedade na Educação Infantil

Descobrir o mundo.
Existe um mundo de cores, cheiros, sensações, texturas e os mais diversificados sentidos a serem explorados, manipulados e compreendidos. Um mundo que se modifica e se transforma a cada instante, e que se desenrola numa dinâmica contínua, frente aos olhos curiosos de nossas crianças, que buscam através de suas ações, lançar entendimento sobre os mais variados fenômenos que se fazem existir.

“Uma das formas mais coerentes de avaliação, em relação às descobertas científicas e mais úteis para a identificação de compreensões erradas que necessita de maiores esclarecimentos, é a observação das verbalizações das crianças. Ouvir seus comentários e fazer-lhes perguntas enquanto lidam com os materiais científicos podem revelar muito.” (In: Avaliação em Ciências na Educação Infantil)

Enveredar por este caminho de descobertas, descortinando dúvidas, elucidando hipóteses e reavivando antigos e novos questionamentos, juntamente com a livre expressão dos conhecimentos prévios trazidos pelas crianças, é a vivência real daquilo que se postula enquanto aprendizagem significativa, pois a construção do conhecimento se dá a partir de ações concretas, constantes e planejadas sobre o objeto do saber, de modo a realizar sobre este, infinitas inferências capazes de ampliar a rede de significados e de relações que se é possível estabelecer.

Aprender, portanto, é ressignificar saberes numa rede de inter-relações cada vez mais ampla e complexa, viabilizando ao sujeito, a possibilidade de construção de novas perspectivas sobre a realidade na qual está inserido.

A aprendizagem, concebida nestes pressupostos, portanto, não se dá de modo automático e padronizado. É uma ação antes de tudo reflexiva, e, sobretudo, subjetiva, isto é, o aprender se consolida em um processo eminentemente pessoal, distante de conceitos e metodologias homogeneizantes, que reduzem o sujeito e suas potenciais habilidades e capacidades, a reprodutores alienados de informações descontextualizadas de sua história e da realidade que os cercam.

Aprender, nestes princípios, é agir sobre o objeto do conhecimento de modo interpretativo e reflexivo, e é papel da escola, enquanto instituição primordial de construção do saber, assim designada pela sociedade, permitir a construção de espaços efetivos de aprendizagem, onde conceitos possam ser desvendados e questionados, paradigmas possam ser decodificados e o conhecimento possa ser vivenciado e internalizado de forma prazerosa.

É neste contexto, tendo como pressupostos teóricos e filosóficos a busca pela edificação de uma educação de qualidade, que atenda integralmente às necessidades e especificidades de cada faixa etária, em especial, as crianças inseridas nos programas de Educação Infantil, que se faz imprescindível repensar a estrutura e a aplicabilidade dos currículos vivenciados em nossas pré-escolas, especialmente, aqueles trabalhados sobre a temática de natureza e Sociedade.

“ O trabalho com os conhecimentos derivados das Ciências Humanas e Naturais deve ser voltado para a ampliação das experiências das crianças e para a construção de conhecimentos diversificados sobre o meio social e natural. Nesse sentido, refere-se à pluralidade de fenômenos e acontecimentos — físicos, biológicos, geográficos, históricos e culturais —, ao conhecimento da diversidade de formas de explicar e representar o mundo, ao contato com as explicações científicas e à possibilidade de conhecer e construir novas formas de pensar sobre os eventos que as cercam.” (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998)

Para além de atividades repetitivas e reprodutivas, voltadas à preparação das crianças para os anos posteriores da sua escolaridade, como no caso do trabalho voltado para o desenvolvimento motor e de hábitos e atitudes, ou ainda práticas instituídas unicamente porque fazem parte do calendário comemorativo nacional, como o dia das mães, dia do soldado, dentre outros, é preciso avançar, no que concerne a necessidade de aprofundamento dos temas trabalhados, desmistificando estereótipos culturais, favorecendo a construção de conhecimentos sobre a diversidade de realidades sociais, culturais, geográficas e históricas.

Para tanto, é importante oferecer as crianças contato com diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do mundo, para que sejam instigadas por questões significativas a observá-los e explicá-los, tendo desta forma, acesso a modos variados de compreensão e representação.



“O trabalho com este eixo, portanto, deve propiciar experiências que possibilitem uma aproximação ao conhecimento das diversas formas de representação e explicação do mundo social e natural para que as crianças possam estabelecer progressivamente a diferenciação que existe entre mitos, lendas, explicações provenientes do “senso comum” e conhecimentos científicos.” (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998)

Infelizmente, não se pode afirmar que, em sua totalidade, as instituições educacionais brasileiras façam destes norteadores uma prática real e concisa em suas rotinas diárias de atuação. Contudo, ações pontuais e instituições comprometidas com sua função social têm demonstrado, de modo significativo, que é possível reverter esse cenário, instituindo de modo criativo, com embasamento teórico-científico, práticas e situações de aprendizagem relevantes, condizentes com as principais possibilidades de aprendizagem das crianças desta faixa etária.

A utilização de diferentes estratégias na busca das informações, o planejamento sistemático de ações de aprendizagem que envolvam, por exemplo, a coleta de dados e sua posterior catalogação, experiências diretas como passeios e excurssões, assim como o contato permanente com diferentes portadores, como mapas, fotografias e pinturas, podem se constituir como importantes mediadores do processo de aprendizagem no eixo Natureza e Sociedade. Ações, em sua maioria, realizadas através de inferências simples, porém de grande alcance, podem se concretizar como a solução tão almejada. É preciso apenas disponibilizar-se a transformar conceitos vigentes e lançar-se rumo a novas descobertas e novas atitudes.