domingo, 11 de março de 2007

A CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM

Reflexões Acerca do Papel do Psicopedagogo nas Instituições Educacionais


Autora: Erica Gomes Pontes (*)
Artigo apresentado à disciplina Dificuldades de Aprendizagem do curso Psicologia da Educação: ênfase em psicopedagogia preventiva, 35º PREPES, Pontífica Universidade católica de Minas Gerais, 2004.



"O estudo da gramática não faz poetas.
O estudo da harmonia não faz compositores.
O estudo da psicologia não faz pessoas equilibradas.
O estudo das "ciências da educação" não faz educadores.
Educadores não podem ser produzidos.
Educadores nascem.
O que se pode fazer é ajudá-los a nascer."

Rubem Alves


Aprender.
Muitas têm sido as teorias e discussões correntes na contemporaneidade que buscam lançar luz e compreensão, acerca dos processos, mitos e certezas que envolvem a ação de aprender.
Ação dinâmica, criadora e prazerosa, intimamente determinada pelo desejo de conhecer do sujeito que a realiza. Mas o desejo é enigma particular e inacessível à racionalização humana. Demanda cuidadosa tradução, mas permite um hiato eterno no texto que se decifra – o desejo quer tudo e nada o sacia.
Será essa a explicação plausível capaz de justificar a voraz fome pelo aprender inerente a raça humana? Estaremos fatalmente fadados à eterna fome de saber, fome que nos sustenta e ao mesmo tempo nos dilacera o corpo na edificação de sintomas cada vez mais metamórficos vivenciados em nossas instituições educacionais?
As escolas, templos solitários de conceitos fragmentados e informações impostas, amortecidas pelo correr do tempo, têm se distanciado da verdade fundante em todo e qualquer processo de aprendizagem:
“O sujeito da educação é o corpo, porque é nele que está à vida. É o corpo que quer aprender para poder viver.” (Rubem Alves)
Aprender para viver. Premissa de importância genuína, porém periférica em grande parte de nossas escolas, que se ocupam, unicamente, de um regurgitar infinito de informações fragmentadas e saberes inquestionáveis reunidos em currículos cada vez mais distantes do olhar e do desejo de seus sujeitos aprendentes.
Numa análise de cunho poético e porque não dizer esperançoso, busca-se despertar a vida adormecida em nossas instituições educacionais. Permitir que as escolas se convertam em oficinas de produção de conhecimento, onde aprender seja antes de tudo um gesto real e concreto de alegria e prazer, é uma realidade que precisa ser edificada.
O conhecimento é capaz de realizar as mais maravilhosas transformações no corpo e na mente humanas. Conhecer é instigar-se. Inquietar-se com o que é visto, ouvido e produzido. Conhecer é ser capaz de refletir sobre si mesmo num processo contínuo de construção e desconstrução de idéias e ideais. E é exatamente por contemplar uma esfera extremamente subjetiva do sujeito humano, que a ação de conhecer é particular, única, carente de interpretação e compreensão para que possa alcançar potenciais cada vez mais amplos e significativos.
É precisamente nesta inferência, que almejasse localizar, o papel a ser desempenhado pelo profissional da ciência psicopedagógica. Nesse sentido, estuda a aprendizagem humana, objetivando facilitar o processo de construção do conhecimento não apenas no ambiente escolar, mas em todos os âmbitos: cognitivo, afetivo, social e durante toda vida.
Cabe ao Psicopedagogo em primeiro lugar, estabelecer um vínculo positivo com o aprendiz, a fim de proporcionar o resgate do prazer de aprender.
É um trabalho terapêutico centrado na aprendizagem, mas levando-se em consideração o aprendente como um todo, seu meio e suas relações.
O Psicopedagogo elabora diagnósticos e realiza intervenções durante o trabalho com foco na aprendizagem, porém sem perder de vista o ser humano com sua individualidade, capacidade e ambiente no qual está inserido, ou seja, um olhar amplo, imparcial e sem preconceito, uma escuta atenta que vai além das evidências, geralmente já observadas pela família e pela escola.
Sua intenção é cuidar da prevenção e do enfrentamento de conflitos envolvendo a escolarização. Nesse sentido, o psicopedagogo atuará com todos os profissionais que cuidam da escola, e deverá promover a articulação entre eles, os alunos e suas respectivas famílias.
Realizar o diagnóstico e a intervenção psicopedagógica também é uma atitude que poderá ser efetivada através de métodos, instrumentos e técnicas próprias da psicopedagogia, sendo relevantes às questões ligadas à prevenção.
Envolver-se em pesquisas e estudos científicos acerca dos problemas e processos de aprendizagem é de fundamental importância no trabalho do psicopedagogo, pois é através de novos enfoques que poderão ser alcançadas importantes considerações a respeito da aprendizagem, bem como obtidos argumentos concretos para o reconhecimento da profissão.
O psicopedagogo deve ter a consciência de observar o indivíduo como um todo: coordenação motora ampla, aspecto sensório-motor, dominância lateral, desenvolvimento rítmico, desenvolvimento motor fino, criatividade, evolução do traçado e do desenho, percepção espacial e viso-motora, orientação e relação espaço-temporal, aquisição e articulação dos sons, aquisição de palavras novas, elaboração e organização mental, atenção e coordenação, bem como, expressões, aquisição de conceitos, e, ainda, desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático.
Através destes complexos ambientes de observação, procura entender o processo de aprendizagem, partindo do pressuposto que são várias as razões que determinam o sucesso ou o “fracasso” escolar de uma criança. A prática psicopedagógica é entendida como o conhecimento dos processos de aprendizagem em seus mais diversos aspectos: cognitivos, emocionais ou corporais. Não se pode falar em aprendizagem sem, portanto, considerar todos os aspectos relevantes na vida desse sujeito que se relaciona e troca, a partir da criação de vínculos.
Pode-se, então, observar que, a cada dia, o objeto de estudo da psicopedagogia tem assumido contornos diferenciados e específicos. Trata-se de através de suas práticas, conhecimentos e investimentos realizados, enveredar por uma cruzada onde o objetivo primeiro centra-se no desejo de resgatar um sujeito completo. Não apenas a soma, mas a articulação desse sujeito em suas especificidades.


Referências Bibliográficas

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